Na manhã desta quarta-feira, 4 de junho de 2025, o preço do Bitcoin (BTC) era negociado pouco abaixo da marca de US$ 105 mil, registrando uma queda de 0,3% no dia e retração acumulada de 3,7% na semana. O movimento ocorre em um contexto de forte retirada de capital dos ETFs de BTC, mas é contrabalançado por compras agressivas feitas por grandes investidores — as chamadas baleias.

ETFs de Bitcoin registram saídas superiores a US$ 1 bilhão

De acordo com a Santiment, respeitada plataforma de análise on-chain, os fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin acumularam três dias consecutivos de saídas líquidas, totalizando US$ 1,21 bilhão. É a primeira vez desde a segunda semana de março que os ETFs enfrentam uma drenagem de capital dessa magnitude.

Esse comportamento pode refletir uma combinação de fatores, como realização de lucros, incerteza geopolítica e volatilidade cambial diante da nova escalada na guerra tarifária iniciada pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump. O tarifaço anunciado contra produtos estrangeiros acendeu alertas em mercados emergentes e pode ter impulsionado investidores institucionais a reavaliar suas exposições.

Pressão institucional não assusta os grandes detentores

Embora os ETFs estejam em retirada, o fluxo contrário chama atenção: as baleias estão comprando a queda. A Santiment compartilhou uma análise do especialista Ali Martinez, que revelou que grandes carteiras adquiriram mais de 30.000 BTC nas últimas 96 horas.

Mais do que isso, atualmente existem 151.820 carteiras com saldos entre 10 e 10.000 Bitcoins, segundo a mesma fonte. Essas carteiras acumularam, só na última semana, 79.244 BTC, o equivalente a mais de US$ 8 bilhões, considerando os preços atuais. Isso demonstra que investidores experientes continuam confiantes na valorização do ativo no médio e longo prazo.

Sardinhas preferem o Ethereum — mas por quanto tempo?

Enquanto os investidores institucionais acumulam Bitcoin, os pequenos e médios investidores — apelidados no jargão cripto de sardinhas — estão demonstrando mais entusiasmo pelo Ethereum. A Santiment analisou o comportamento das redes sociais e descobriu que, para cada comentário negativo sobre o ETH, existem três positivos. No caso do Bitcoin, esse número cai para 1,3 comentários otimistas para cada 1 pessimista.

Esse entusiasmo pode estar relacionado à recente alta do Ethereum, que valorizou mais de +41% em menos de quatro semanas. Contudo, a Santiment faz um alerta importante: historicamente, os mercados tendem a se mover na direção oposta ao sentimento majoritário dos investidores de varejo. Ou seja, o aumento exagerado de otimismo com o ETH pode ser um sinal de topo.

Trump, China e o papel da macroeconomia

O novo tarifaço de Donald Trump reacendeu o temor de um conflito comercial com a China, o que gerou volatilidade não só no mercado de ações, mas também no setor de criptomoedas. Curiosamente, mesmo em meio a esse cenário conturbado, várias altcoins chegaram a registrar altas de até 45%, impulsionadas por dados positivos de emprego nos EUA divulgados recentemente.

Esses dados reforçam a percepção de que a economia americana segue resiliente, o que pode ser um fator positivo para ativos de risco como o Bitcoin, especialmente se o Federal Reserve adotar uma postura mais dovish em suas próximas reuniões.

Correção saudável ou sinal de fraqueza?

O analista brasileiro Arthur Driessen, da plataforma Crypto Investidor, acredita que a correção atual é uma movimentação natural dentro da tendência de alta. Para ele, o preço do BTC pode até cair para US$ 90.000 ao longo de junho, mas isso não alteraria sua visão de longo prazo, que projeta a criptomoeda atingindo entre US$ 200.000 e US$ 350.000 até o fim do ciclo de alta.

Driessen argumenta que a acumulação feita por grandes carteiras é um forte indicativo de que ainda há fôlego para novas máximas. Segundo ele, “o movimento das baleias normalmente antecede os grandes rallies do Bitcoin”, e o comportamento atual é consistente com ciclos anteriores.

Bitcoin ainda lidera como reserva de valor digital

Mesmo com o aumento da atenção sobre o Ethereum e outras altcoins, o Bitcoin segue sendo a principal reserva de valor digital no ecossistema cripto. Seu fornecimento limitado a 21 milhões de unidades, combinada à crescente adoção institucional e integração com o sistema financeiro tradicional (via ETFs, bancos e plataformas de pagamentos), o torna um ativo cada vez mais relevante no cenário global.

Conclusão: momento de cautela ou oportunidade?

O mercado de criptomoedas continua oferecendo sinais contraditórios. A saída massiva dos ETFs pode indicar cautela entre os investidores institucionais, mas a intensa acumulação por parte das baleias sugere uma oportunidade estratégica de compra.

Para o investidor que acompanha o setor, o momento atual exige atenção redobrada às métricas on-chain, além de uma visão macro mais ampla. A movimentação dos grandes players e a leitura de sentimento nas redes sociais podem servir como termômetro para identificar momentos de euforia exagerada ou pânico infundado.

Em um ambiente onde os mercados frequentemente se comportam de forma oposta ao consenso, o investidor preparado é aquele que sabe nadar contra a maré das sardinhas, observando os passos das baleias.